EDUCAÇÃO E AMOR
A educação primeiro ajuda a criança a viver a própria vida como ela merece, mas sua missão essencial é preparar o futuro adulto para várias formas de autonomia e de auto-aprendizado
Reproduzimos alguns trechos do artigo que o CORREIO, órgão da UNESCO, publicou em novembro de 1972 , comentando o Relatório da Comissão Internacional sobre o Desenvolvimento da Educação com o título “Aprendendo a Ser”:
“Se uma Comissão Internacional estiver certa no relatório que acabou de apresentar à UNESCO, a educação no mundo inteiro provavelmente sofrerá uma total reformulação na próxima geração.
Para começar, a educação pré-escolar terá início muito mais cedo, uma vez que a importância da educação pré-escolar está mais amplamente reconhecida; depois, ela nunca terminará, pois os sinais são de que o conceito de educação contínua, já um ideal, está na iminência de se tornar uma realidade prática. Os exames, a perdição da vida de todos os estudantes, poderão desaparecer, pois não terão significado para as pessoas que estarão aprendendo em seu próprio rítmo. Assuntos e currículos rígidos provavelmente irão para o mesmo cadinho…
Acima de tudo, o espírito e os objetivos mudarão: a ênfase está posta no aprendizado, não no ensino, e os resultados da educação não serão medidos em termos de tanto conhecimento fornecido, mas de seres humanos completamente desenvolvidos.
A escola se tornou uma instituição em vez de uma preparação para a vida, porque muita ênfase foi posta na palavra escrita, na excessiva divisão de matérias, no muito autoritarismo; numa palavra, escola demais e pouco aprendizado.
A educação primeiro ajuda a criança a viver a própria vida como ela merece, mas sua missão essencial é preparar o futuro adulto para várias formas de autonomia e de auto-aprendizado” (Transcrito de “The Beacon”)
Não se compreende por que, numa época de tanta evolução e desenvolvimento intelectual do homem, de tantas descobertas científicas, de tanto desejo de melhorar as condições humanas, a infância e a juventude sejam ainda vítimas de desajustes que as levam à psiquiatria, às cadeias e aos manicômios. Até mesmo os suicídios em época nenhuma da história foram tão frequentes entre os jovens, hoje ascendendo a um número incrível. Por que, se todas as nações lutam por dias melhores? É porque suas lutas e ideais são meramente teóricos. Vêm da mente e não do coração. Só a educação partida do coração pode ser eficiente, pode ajustar a infância e a juventude para que, quando adulta, ela saiba reformar o mundo de acordo com o novo plano.
Quando Pestalozzi fundou a sua escola e ministrou ao mundo seus ensinos pedagógicos, disse: “Quem não souber nutrir pleno amor por seus semelhantes, pode considerar-se antecipadamente um fracasso como educador”. O que imortalizou Pestalozzi não foram os seus ensinamentos, e sim, a vida que brotava de suas teorias. Com a idade de setenta anos, esse heroico educador abandonou tudo para dedicar-se à educação de criancinhas órfãs, elevando suas almas delicadas e desamparadas. Dizia o insigne educador: “Enquanto eu não puder mostrar por meio de uma instituição de criancinhas pobres que a pobreza pode ser remediada por suas próprias forças, meu método servirá para a escola, mas não para a vida, e minha obra ficará em meio”. Isso bem mostra que suas teorias partiram do coração e não da mente. Allan Kardec foi aluno e discípulo de Pestalozzi e bem se pode notar a semelhança de caráter e de princípios entre os dois. Todo o trabalho da Codificação Espírita está calcado nos princípios de amor e fraternidade ensinados por Pestalozzi.
Amor é o que falta hoje para ajustar a juventude e a infância. Existem novos métodos, novas escolas, bastantes teorias, mas pouco amor, o elemento coesivo e dinâmico. No lar rico, as crianças são entregues a empregadas e por isso não sentem o carinho materno, o único capaz de lhes despertar as energias latentes, e vão pouco apouco se transformando em maquinas humanas, alheias às realidades da vida familiar. O maior alimento da criança em seus primeiros anos de existência, enquanto o Ego não se apodera da personalidade, é o amor materno, o ambiente do lar, as carícias do pai, o afeto dos avós ou dos tios. Assim, pouco a pouco, ela compreende que o meu mundo é maior e aprende a espalhar seu amor.
Tudo isso é muito sério e trabalhoso, pois cada dia cresce o número de desajustados e se agrava a delinquência juvenil. Quem não foi amada, não sabe amar. Quem não recebeu carinhos na infância não sabe dar gentilezas, doçura, bondade, nem mesmo perdoar as faltas alheias. O Jovem que foi maltratado ou desprezado aprendeu as primeiras noções da criminalidade impune e geralmente gravou em si o sentimento de vindita, que se extravasará na primeira oportunidade. Tanto faz que fosse desprezado por excesso de dinheiro ou por abandono na miséria. Uns e outros estarão entre os desajustados sociais, as vítimas do meio em que vivemos.
Só a reeducação de adultos pode trazer para a infância e a juventude uma nova educação, evitando os desajustes sociais.
Quando os pais e mestres estão com as bordas do coração transbordantes de amor, sequiosos de transmiti-lo a outrem, e tem diante de si filho ou aluno, podem realmente educar. Não importa um cérebro repleto de novas teorias; o mais importante é a capacidade de comunicar a outrem a chama sagrada do amor.
Se a criança for colocada sob a proteção dos que a amam não importa o seu passado negro ou triste, porque o fogo do amor queimará todas as impurezas do seu passado, e ela crescerá com possibilidades maiores de vencer e expandir-se e jamais será vencida.
Se levantasse uma estatística perfeita de todos os desajustados sociais, descobrir-se-iam neles criaturas que não foram devidamente amadas, e que seus pais e mestres não souberam queimar nela e as escórias de um passado desatinado, despertando-lhes a alma para a vida do Amor.