A Crença Move o Comportamento

Uma análise Espírita e Filosófica

A crença é um elemento central na formação do comportamento humano. Seja no âmbito individual ou coletivo, as convicções moldam valores, guiam decisões e determinam ações que repercutem na sociedade e no espírito imortal. Sob a perspectiva espírita e filosófica, compreender a natureza das crenças, suas origens, seus impactos e o processo de desmistificação dos paradigmas é essencial para a construção de um caminho evolutivo alicerçado no amor e na ética. Este artigo analisa como as crenças influenciam o comportamento, destacando a importância da crítica, da pesquisa e da constante avaliação no progresso espiritual.

O que é uma Crença?

Uma crença pode ser definida como uma convicção ou aceitação de algo como verdadeiro, independentemente de sua comprovação. Para a Doutrina Espírita, as crenças refletem o nível de evolução espiritual e moral do indivíduo, influenciando seu modo de viver e de interagir com o próximo. Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, destaca que o espírito, ao longo de suas encarnações, forma crenças baseadas na experiência, no conhecimento e na interação com o meio.

Na filosofia, pensadores como Descartes e Kant abordaram a crença como um estado da mente que antecede o conhecimento, uma base sobre a qual se constrói o pensamento crítico. No entanto, muitas crenças são formadas a partir de paradigmas sociais e culturais que, quando não questionados, podem limitar a compreensão do indivíduo sobre a realidade. Nesse contexto, a desmistificação torna-se uma ferramenta essencial para desconstruir ideias preconcebidas e abrir espaço para novas perspectivas baseadas na razão e na espiritualidade.

Tipologias de Crenças

As crenças podem ser classificadas de diversas formas, considerando sua origem, abrangência e impacto:

  1. Crenças Pessoais: Relacionadas às experiências individuais, como as convicções sobre si mesmo, sobre a vida e o propósito existencial.
  2. Crenças Culturais e Coletivas: Formadas no contexto social e compartilhadas por um grupo ou sociedade, como as tradições religiosas e valores éticos.
  3. Crenças Científicas e Filosóficas: Baseadas na investigação e no raciocínio lógico, sendo flexíveis e sujeitas a revisões à luz de novos conhecimentos.
  4. Crenças Espirituais: Fundamentadas na conexão do ser com o transcendente, abordando questões como a imortalidade da alma e a justiça divina, pilares centrais do Espiritismo.

A Formação de uma Crença e a Cristalização de Paradigmas

As crenças são construídas a partir de interações com o meio, da educação, da vivência espiritual e da reflexão:

  1. Nível Pessoal: No indivíduo, as crenças nascem da interpretação subjetiva de experiências. Conforme ensina o Espiritismo, a reencarnação permite que o espírito carregue tendências e aprendizagens de vidas passadas, influenciando a formação de crenças atuais.
  2. No Meio e na Sociedade: A cultura e o ambiente social têm papel determinante na construção de crenças. Em A Gênese, Allan Kardec explica que o meio exerce influência significativa, mas que o espírito possui liberdade para questionar e modificar suas crenças ao longo do tempo.
  3. Cristalização das Crenças: Quando uma crença se torna rígida, ocorre a cristalização dos paradigmas, que podem dificultar a evolução e a adaptação a novas realidades. Desmistificar esses paradigmas é essencial para abrir espaço para a reforma íntima, um dos pilares da Doutrina Espírita.

O Espiritismo e a Quebra de Paradigmas pela Reencarnação

O Espiritismo, por meio da lei da reencarnação, revela como Deus, em Sua infinita sabedoria e justiça, conduz o espírito à superação de paradigmas e crenças cristalizadas. A reencarnação permite que vivências sob novos pontos de vista sejam a ferramenta mais eficaz para transformar conceitos arraigados e reformular entendimentos.

Como promover uma mudança tão profunda senão por meio da vivência direta, em um contexto que oferece ao espírito a oportunidade de “recomeçar” e enxergar a vida sob outro prisma? Por exemplo, uma pessoa que, em uma existência, nutriu preconceitos severos e incontestáveis, pode renascer em uma condição que antes era alvo de seu desprezo, enfrentando assim os desafios que antes ignorava. Essa experiência, planejada pela sabedoria divina, é uma oportunidade de aprendizado e evolução.

A máxima “nada é por acaso” nos recorda que cada experiência vivida, por mais desafiadora que pareça, carrega em si o propósito de nos impulsionar ao progresso espiritual. Deus, em Sua bondade, nos oferece essas vivências para que possamos crescer, compreender, e, acima de tudo, amar com mais plenitude e menos julgamentos.

A Importância da Crítica e da Avaliação Minuciosa

A Doutrina Espírita, ao propor a fé raciocinada, enfatiza que nenhuma crença deve ser aceita sem questionamento. Trata-se de uma fé que não se baseia no medo ou na imposição, mas no entendimento lógico e consciente das verdades espirituais e das leis divinas. Segundo Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, a fé inabalável é aquela que pode “encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da humanidade”.

Essa abordagem inclui a necessidade de desmistificar paradigmas que, muitas vezes, limitam a compreensão e a expansão da consciência. Ao estudar e questionar os paradigmas herdados culturalmente, o indivíduo pode transformar crenças enraizadas em convicções mais alinhadas com os princípios universais do amor e da justiça divina.

Minha Experiência Pessoal

Vim de uma religião herdada da família, centrada em uma fé inquestionável e na interpretação literal das Escrituras. Apesar de me oferecer uma base moral sólida, os questionamentos internos começaram a surgir, desafiando conceitos que pareciam não harmonizar com a razão e a complexidade da vida. Sob forte pressão familiar e social para manter os preceitos tradicionais, iniciei uma busca por respostas que transcendiam as explicações recebidas.

Foi nessa jornada que encontrei na Doutrina Espírita um caminho de entendimento mais amplo, baseado na fé raciocinada. A ideia de que a espiritualidade deve ser fundamentada na lógica e no progresso contínuo trouxe consolo e clareza. Conceitos como reencarnação e justiça divina ofereceram respostas coerentes para minhas inquietações, permitindo-me ampliar a visão de mundo sem rupturas abruptas, mas com a serenidade de um aprendizado gradual.

Hoje, reconheço que essa busca é constante e progressiva. A espiritualidade não é absoluta, mas evolutiva, e cada nova descoberta reafirma o compromisso com o conhecimento e a transformação pessoal, como bem ressalta Kardec em O Livro dos Espíritos: “O progresso é lei da natureza”.

Impactos Diretos e Indiretos das Crenças

As crenças têm efeitos profundos na vida individual e coletiva:

  1. Impactos Diretos: Afetam as escolhas, as atitudes e os relacionamentos interpessoais. Por exemplo, a crença na reencarnação pode inspirar paciência e resignação diante de adversidades.
  2. Impactos Indiretos: Moldam estruturas sociais e culturais, influenciando políticas públicas, sistemas educacionais e movimentos de transformação social.

Crenças e Evolução do Espírito

No Espiritismo, as crenças são vistas como ferramentas para o progresso do espírito. Contudo, é necessário lembrar que o espírito está em constante evolução. O que hoje é verdade pode ser revisitado à medida que o ser avança em conhecimento e moralidade. A desmistificação dos paradigmas é um passo essencial nesse processo, permitindo que o espírito trilhe novos caminhos sem se prender a dogmas ou preconceitos.

Amor como Crença Imutável

As crenças são essenciais para a formação do ser, moldando sua ética e comportamento. No entanto, o Espiritismo ensina que o espírito não deve se prender a dogmas, mas sim estar aberto à evolução contínua. A desmistificação dos paradigmas permite que o espírito se liberte de crenças limitantes e avance em direção à luz do conhecimento.

O amor, conforme exemplificado por Jesus, é a única crença imutável, que transcende o tempo e guia a humanidade rumo à regeneração. Que possamos abraçar a evolução com coragem, sempre confiando no Cristo como o farol de nossas jornadas espirituais.


Bibliografia

  1. Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. Brasília: FEB, 2019.
  2. Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. Brasília: FEB, 2019.
  3. Kardec, Allan. A Gênese. Tradução de Guillon Ribeiro. Brasília: FEB, 2019.
  4. Kardec, Allan. Obras Póstumas. Tradução de Guillon Ribeiro. Brasília: FEB, 2019.
  5. Kant, Immanuel. Crítica da Razão Pura. São Paulo: Nova Cultural, 2003.
  6. Descartes, René. Meditações sobre Filosofia Primeira. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

 

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