PENSAMENTO E SAÚDE
"Cogito ergo sum" - Penso, logo existo. Desde a década de 70, os estudos em Medicina Psicossomática e em Psiconeuroendrocinoimunologia evidenciam a relação entre os sentimentos/emoções e a saúde.
“Cogito ergo sum” – Penso, logo existo.
René Descarte
Desde a década de 70, os estudos em Medicina Psicossomática e em Psiconeuroendrocinoimunologia evidenciam a relação entre os sentimentos/emoções e a saúde. Com o avanço metodológico e tecnológico, tais pesquisas apontam não apenas para estado emocional, mas, sobretudo, para nossa atividade mental como fator de extrema importância na estruturação da saúde. Sendo assim, falar em saúde é falar sobre o que pensamos e como pensamos. Neste mês, falaremos sobre o pensamento a partir da ótica espírita.
O filósofo e matemático francês René Descarte entendia o pensamento como condição sine qua non do próprio existir e isso é demonstrado em sua célebre frase: “penso, logo existo”. Percebe-se, então, que, o pensar é, de igual maneira, atributo e causa de sermos humanos. Suely Caldas Schubert, no livro Os poderes da mente, corrobora o pensamento de Descarte, ao destacar que “pensar é atributo de todos os seres humanos. Somos seres pensantes. Existimos e pensamos”. Dessa forma, podemos inferir que pensamos porque existimos e existimos porque pensamos. Mas, afinal, o que é pensar? Onde são formados os pensamentos?
As neurociências apontam o neocórtex como a sede do pensamento. Essa estrutura encefálica contém os centros neuronais que reúnem e compreendem o que os sentidos percebem. A partir dessas informações os pensamentos são gerados, como respostas às atividades neuronais. É também nessa estrutura que pensamentos e sentimentos são associados. Afinal, ao pensarmos, sentimos e, ao sentirmos, pensamos.
A Doutrina Espírita vai além dos neurônios. Allan Kardec, na questão 89a, de O Livro dos Espíritos, assevera que o pensamento é atributo do espírito e frente a isso contrapõe a noção de que os pensamentos são resultados dos processos neuronais. E avança quando diz: “o pensamento é o atributo característico do ser espiritual; é ele que distingue o Espírito da matéria; sem o pensamento o Espírito não seria Espírito” (Revista Espírita, 1864, p. 352).
Não se deve entender, diante do raciocínio de Kardec que o Espiritismo se opõe aos achados científicos. Ao contrário: Ciência e Doutrina Espírita, andam juntas. Sueli C. Schubert explicita melhor a questão ao dizer que “o pensamento é atributo do espírito e não produto do cérebro físico. […] o cérebro é a sede física onde a mente do Espírito atua comandando o veículo orgânico, possibilitando a si mesmo a vida em plano terreno”. Dessa forma, quando encarnados, espírito e matéria formam um binômio indissociável. Mas, afinal, o que é o pensamento?
O espírito Emmanuel (em Pensamento e Vida) define o pensamento como uma força eletromagnética que se exterioriza na forma de ondas sutis, em circuitos de ação e reação no tempo; tendo, portanto, frequência, amplitude e comprimento específicos. André Luiz (em Mecanismos da Mediunidade) complementa dizendo que tais ondas são correntes vivas e se exteriorizam incessantemente do Espírito. Vale destacar que, por força eletromagnética deve-se entender a capacidade de atrair ou repelir cargas, ou, no caso, pensamentos. E, por ondas, a capacidade de ser ampliada (ressonância) ou extinta.
Os pensamentos atuam como ondas capazes de induzir outras ondas, seja atraindo-as ou repelindo-as, de forma que, quando há atração, ocorre o fenômeno da ressonância, o qual é caracterizado pela potencialização da frequência e intensidade da onda originária. Por isso, constantemente, diz-se que a comunhão de pensamentos potencializa a prece. Quando mais mentes vibrando em um mesmo objetivo, mais poderosa torna-se a onda mental. E o contrário também é verdadeiro, pelo mesmo princípio de indução e ressonância.
Quando alguém não quer nosso bem, ao invés de retribuirmos com nossos pensamentos de desprezo ou raiva, devemos pensar fraternalmente, visto que o pensamento negativo – aqui entendido como todo pensamento de ódio, raiva, mágoa e desprezo – soma-se a outros pensamentos negativos potencializando a onda inicial (pensamento inicial). Não à toa, Cristo ensinou a retribuir o mal com o bem, sabedor de que as influências negativas serão sempre debeladas quando não encontrarem guarida em nossas mentes. Não dar guarida, nesse caso, implica em inverter (mudar) os pensamentos.
Em suma, o pensamento é todo e qualquer criação racional do Espírito. Sempre que o Espírito imagina, reflete, inquiri ou conclui, ele está criando. Esta criação é o pensamento que flui de maneira incessante da mente e possui como propriedades induzir outros pensamentos, ampliando-os ou repelindo-os. Pois bem, agora sabemos o que é pensamento, onde eles se formam e algumas de suas propriedades e mecanismos. Vamos refletir, então, sobre a influência dos pensamentos em nossa saúde.
Por mais difícil que se possa crer, precisamos considerar que o pensamento (que é uma onda eletromagnética) é também matéria. Irmão Áureo traz-nos as seguintes considerações: “o pensamento é uma radiação da mente espiritual, dotada de ponderabilidade e de propriedades quimioeletromagnéticas, constituída por partículas subdivisíveis, ou corpúsculos mentais de natureza fluídica, configurando-se como matéria mental viva e plástica” (Universo e Vida, p. 99). Assim, o pensamento é matéria e possui o mesmo comportamento dual da luz, isto é, ora atua como onda, ora como matéria. E, é por essa característica que dizemos que plasmamos o pensamento, ou seja, que materializamos o que pensamos.
André Luiz sintetiza a questão: “a matéria mental é o instrumento sutil da vontade, atuando nas formações da matéria física, gerando as motivações de prazer ou desgosto, alegria ou dor, otimismo ou desespero, que não se reduzem efetivamente a abstrações, por representarem turbilhões de força em que a alma cria os seus próprios estados de mentação indutiva, atraindo para si mesma os agentes (por enquanto imponderáveis na Terra), de luz ou sombra, vitória ou derrota, infortúnio ou felicidade”. (Mecanismos da Mediunidade, p. 47). E por que não dizer saúde e doença?
É por essa capacidade de materializar nossos pensamentos, que impregnamos nossas células com o teor compatível de nossas mentes. Bruce H. Lipton, cientista americano, escreve em sua obra A Biologia da Crença, que nossas células possuem estruturas capazes de reconhecer os padrões mentais de nossa mente e responder aos estímulos por ela engendrados. De igual maneira que a Psicossomática e a Psiconeuroendocrinoimunologia atestam o quanto nossos estados mentais são capazes de influir em nossa saúde, de forma que, a própria medicina estabelece que a causa de muitas patologias são estados emocionais/mentais doentios.
Uma mente viciada e pessimista exteriorizará ondas (pensamentos) de igual estado. Nossas células responderão ao padrão mental a que têm acesso. Os padrões de ativação neuronal responderão a tais ondas e, por consequência, o sistema endócrino e imunológico ficará comprometido. Logo, podemos concluir que doença e saúde são reflexos do repertório emocional e psíquico que formos capazes de constituir ao longo de nossas experiências, nas diversas encarnações que tivermos. Não à toa, a Doutrina Espírita convida-nos, insistentemente, a reforma íntima, aqui entendida como o desenvolvimento de repertórios emocionais e mentais mais saudáveis. Por isso a importância do perdão ao próximo e do autoperdão, de ressignificarmos mágoas e ressentimentos, visto que sem essas mudanças continuaremos vinculados ao passado e continuaremos exteriorizando pensamentos que nos manterão doentes.
Em sua proposta libertadora, Cristo atuou como médico por excelência, ensinando-nos a prevenção, sintetizada no “orai e vigiai”. Orando, estaremos sintonizando com pensamentos mais salutares. Vigiando, poderemos selecionar de forma mais acurada quais são os pensamentos com que iremos nos comprometer. Além da prevenção, Cristo nos ensinou a profilaxia, a qual chamou de amor e perdão. Ambos remédios eficazes na que diz respeito à mudança de nossos padrões mentais. Pois, perdão significa dar-se a oportunidade de fazer diferente. E, por amor, entende-se a capacidade de tolerar nossos próprios erros e seguir em frente na busca da redenção espiritual.
Em outra ocasião conversaremos como tais sentimentos, o amor e o perdão, são capazes de promover a saúde em nosso corpo físico.
Até lá.